Aplicações e dilemas da inteligência artificial são destaque na abertura da Jornada de Integração

Palestra do presidente da Associação Capixaba de Tecnologia marcou início do evento, totalmente on-line e gratuito.

Os diferentes usos e aplicações da inteligência artificial (IA), que trazem consigo alguns dilemas morais e éticos, foram abordados na palestra de abertura da IV Jornada de Integração do Ifes, que teve início nesta segunda-feira (30). O presidente da Associação Capixaba de Tecnologia (Act!on), Emílio Augusto Barbosa, foi o responsável pela palestra, intitulada “Inteligência artificial e mundo do trabalho: tendências e desafios”. 

Emílio apontou em sua fala algumas aplicações da inteligência artificial que já estão em curso e que tendem a se intensificar, como a utilização na previsão de situações que levam a ataques de hackers e de terroristas digitais, por exemplo, ou o uso para análise de grandes volumes de informação (big data) e na automação de processos que atualmente demandam trabalho manual. 

Em termos de pesquisa e desenvolvimento, ele sinalizou que há uma busca no sentido de deixar a inteligência artificial mais natural nas interações com pessoas, possibilitando que um robô atendente (chat bot), por exemplo, responda a perguntas mais abertas, subjetivas, a ponto de se confundir com alguém de carne e osso.

Segundo Emílio, a grande inspiração para desenvolvimento dessas tecnologias é a forma como funciona a memória humana. “A autonomia no ser humano é viabilizada por memórias”, pontuou, comentando que as ferramentas atuais ainda são pouco desenvolvidas no sentido da memória episódica (aquela que está relacionada à capacidade humana de relembrar episódios da vida, partes da história) e da memória de trabalho (que trata das informações de curto prazo, do dia a dia). Ambas são fundamentais para análise de conjuntura e tomada de decisão.

“A inteligência artificial ainda é limitada, consegue executar tarefas limitadas”, afirmou, completando que há uma busca por uma autonomia cada vez maior, sem a necessidade de intervenção de controladores. Ele conta que há uma busca pela inteligência artificial explicável, que é aquela capaz de apresentar seus argumentos para as tomadas de decisão.

Entretanto, o uso cada vez mais intensivo das ferramentas de IA traz preocupações. Uma das áreas de atenção é a de segurança e monitoramento. “Temos ferramentas e soluções para monitorar qualquer coisa hoje. Poderíamos ter câmeras de vigilância avaliando suas ações e comportamentos, ou soluções conectadas ao seu corpo avaliando sua saúde e suas atitudes enquanto indivíduo. É claro que isso pode trazer benefícios, mas onde está o limite ético? Onde está a liberdade individual e a privacidade?”, exemplificou. Outra questão é a produção de armas autônomas e a capacidade de ataques cibernéticos cada vez mais específicos e poderosos.

O público da palestra também demonstrou suas preocupações com a acessibilidade da inteligência artificial e seu impacto social. Para Emílio, quando se desenvolve uma solução escalável há um potencial de abranger mais pessoas e baratear processos. Ele também lembrou que a tecnologia pode ser usada para ajustar cada vez mais oferta e demanda, evitando desperdícios e reduzindo custos em geral para cidadãos e consumidores.

Em relação à formação de pessoas para o trabalho na área tecnológica, ele apontou que é preciso atenção para reforçar o domínio da lógica de programação de dos algoritmos, algo que vem caindo nos últimos anos. Contudo, o palestrante se mostrou otimista quanto à capacidade das instituições de pesquisa e empresas do Estado de produzirem pesquisas e ferramentas tecnológicas de relevância nesse cenário.

Abertura

O evento foi transmitido ao vivo pelo YouTube, entre as 13h e as 14h30, e acompanhado por até 145 internautas simultaneamente. Pessoas de todos os campi do Ifes marcaram presença e interagiram, além de professores da rede estadual. Houve composição de uma mesa de abertura virtual, que deu as boas-vindas a todos e fez os agradecimentos às equipes envolvidas na realização da Jornada.

O reitor do Ifes, Jadir Pela, enfatizou a importância do evento para a popularização da ciência, e deu destaque à Feira de Ciências do Norte Capixaba (Fecinc), que faz parte da Jornada. “É preciso que a gente regionalize essas iniciativas. A Fecinc traz uma grande possibilidade para a popularização da ciência e da tecnologia”, apontou.

O presidente da comissão organizadora da IV Jornada de Integração, Célio Maioli, também recebeu os participantes relatando que foi um grande desafio o planejamento e a realização inteiramente virtual, em meio à pandemia, mas destacando que este foi um dia histórico e de celebração para o Ifes.

Veja o gravação da abertura da IV Jornada de Integração do Ifes.