Painelistas lançam olhar humano sobre Ciências Exatas e Inteligência Artificial

Primeiro painel desta terça-feira (1) destacou importância de a sociedade pensar nos desdobramentos do desenvolvimento tecnológico com empatia.

Quatro professores da área de Ciências Exatas debateram aspectos da Inteligência Artificial (IA) no primeiro painel temático desta terça-feira (1), dentro da programação da Jornada de Integração. A atividade foi transmitida ao vivo pelo canal da Jornada no YouTube e teve a mediação da professora Andromeda Goretti de Menezes Campos.

Participaram Fidelis Zanetti de Castro, doutor em Matemática Aplicada e professor do Campus Serra; Paulo Roberto Filgueiras, pós-doutor em Química e professor da Ufes; Jefferson Oliveira Andrade, mestre em Informática e Educação e professor do Campus Serra; e Felipe Leoncio Braga, doutor em Física e professor do Campus Cariacica.

No primeiro tópico de discussão, eles abordaram o papel que a IA vai desempenhar para a sociedade. Fidelis sinalizou que há a tendência de que sejam substituídas principalmente as tarefas que poderiam ser executadas manualmente. Ele disse que o ideal seria o desenvolvimento no sentido de as máquinas servirem de apoio às pessoas, e não como substitutas delas.

O professor Jefferson reforçou a necessidade de se pensar no impacto social que a IA pode ter no mundo, nas próximas décadas. “É uma ferramenta, pode ser usada para algo muito bom ou muito ruim”, apontou. Ele exemplificou que a automação e todos os modos de inteligência artificial fizeram triplicar a produtividade dos trabalhadores dos EUA nas quatro últimas décadas, entretanto, os salários da camada mais pobre tiveram pouco aumento, o que sinalizou uma concentração de riquezas.

“Acredito que a gente precisa de transformações sociais que acomodem a IA. Ela não vai sumir. O que nós vamos fazer então? A gente precisa pensar no aspecto técnico, mas a sociedade precisa pensar o que vai acontecer com ela daqui a 20 ou 30 anos, quando a IA tomar os postos de trabalho. Que modelo precisa ter para evitar que metade da população do mundo fique sem emprego?”, questionou.

Os impactos para o ensino também foram comentados pelos painelistas. O professor Paulo chamou atenção para o fato de que a aplicação da IA modifica inclusive os laboratórios de química, possibilitando que se tornem um pouco mais acessíveis no sentido do custo financeiro. “O ensino de química analítica acaba sendo muito tradicional porque instrumentalizar um laboratório de ensino é muito custoso. Isso está começando a mudar”, disse, explicando que o desenvolvimento das tecnologias possibilita mesmo combinação de equipamentos mais baratos com algum método inteligente.

Na visão do professor Felipe, hoje é possível usar as plataformas virtuais de aprendizado para engajar os estudantes, mas há um caminho ainda mais interessante se abrindo: a gamificação. “Esse vai ser o grande vetor para maximizar a aprendizagem dos estudantes. A disputa, o contato entre os alunos tentando aprender via uma plataforma que mescle os desempenho dos dois para alcançar um objetivo pode ser o próximo trunfo da IA para o ensino.”

Ao falarem sobre as políticas para educação, ciência e tecnologia, todos concordaram que o congelamento de investimentos é muito prejudicial. “Para desenvolver uma sociedade que seja menos injusta, a gente precisa gerar riqueza e mecanismos de compartilhamento dessa riqueza. Quando você congela a possibilidade de investir em educação, você congela um caminho para isso”, afirmou Fidelis. “Se o objetivo é desenvolver uma educação sólida e uma ciência de vanguarda, o caminho não é esse”, completou Paulo.

O professor Jefferson lembrou que uma economia centrada em exportação de matérias-primas e fontes primárias historicamente não é capaz de levar um país ao patamar de riqueza dos ditos países desenvolvidos. Para ele, esse tipo de política fomenta “a evolução cada vez mais voraz do subdesenvolvimento da nação brasileira”. 

A empatia e a emancipação foram bastante citados no encerramento do painel. A primeira, no sentido de se solidarizar com os outros para gerar uma mobilização na defesa de ideais; e a segunda, para ser capaz de pensar criticamente. “Somos manipulados pela inteligência artificial nas redes sociais, por exemplo. Cabe a nós, seres humanos, dar um basta. Dizer ‘não, eu não vou fomentar a manipulação, a ignorância'”, enfatizou Felipe.

Confira todas as transmissões ao vivo salvas no canal da Jornada de Integração no YouTube.