Definição do que é inteligência humana é questão chave para o debate sobre possibilidade de máquinas pensarem.
O dilema sobre inteligência artificial e máquinas executando funções antes exclusivamente realizadas por humanos chegou à sala de aula. Com o tema “Será que as máquinas podem pensar? Pode a inteligência artificial substituir a figura do professor?”, o painel da área de Ciências Humanas encerrou a programação da IV Jornada de Integração do Ifes nesta segunda-feira (30).
Com mediação do professor Lauro Sá, do Ifes, os professores de Filosofia Filicio Mulinari, do Ifes, e Maurício Abdalla, da Ufes, trouxeram pontos de reflexão sobre o pensamento humano e a possibilidade das máquinas pensarem. Filicio destacou que a discussão é antiga e tornou-se forte na ciência no século passado, inclusive na cultura pop. “É um problema que nasce na filosofia, perpassa a ciência e todos têm algum contato com a questão”, complementa.
O professor explicou que há duas correntes em relação à inteligência artificial (IA). A IA forte, que defende que humanos e máquinas operam de modelo muito semelhante, sendo indiferenciáveis. Para a IA fraca, as máquinas apenas simulam comportamentos humanos, mas não replicam esses comportamentos. Diante disso, ele levantou duas questões importantes: o que é pensamento e a diferença entre simular e agir de forma autônoma.
Para o professor Maurício, é possível converter um conjunto de operações lógicas e matemáticas em comandos para uma máquina. “Mas o pensar humano não é uma mera execução de operações”, ressalta. De acordo com ele, a inteligência humana é resultado de um conjunto de fatores, como o metabolismo e o sucesso evolutivo, além das emoções, que determinam os pensamentos e como os seres humanos pensam.
Os professores concordaram que, cientificamente, não é possível máquinas terem sentimentos. “Sentimentos, emoções, emergem somente de sistemas orgânicos”, complementa Filicio.
Sobre a possibilidade de máquinas substituírem professores na sala de aula, tema central do painel, a questão deve ser pensada não só sob o ponto de vista da precarização do trabalho mas também sobre tecnologia como uma via para repensar as relações humanas, em especial no momento atual devido à pandemia, de acordo com Filicio.
“Uma máquina é capaz de vencer uma partida de xadrez, mas só um ser humano poderia vencer a partida e comemorar a vitória, até zombar do oponente”, exemplificou Mauricio. Para o professor, máquinas executando tarefas no lugar de seres humanos não é um problema científico e tecnológico, mas um problema mercadológico. “Nada é feito pela tecnologia, ela é apenas instrumento”, finalizou.